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terça-feira, 23 de novembro de 2010

QUEM SAI DO QUÊ?

Uns tímidos; outros alvoroçados, mas todos curiosíssimos. Risinhos e cochichos ecoavam na sala. Era a aula de Orientação Sexual. Enquanto a professora tirava dúvidas sobre sexo, um grupo de meninos se acotovelava e cutucava um ao outro, rindo envergonhados:
- Vai, otário, pergunta na moral!

A professora interrompe o fuzuê:
- Vocês aí querem perguntar alguma coisa?

O mais desinibido se assume como porta-voz da geração:
- É que a gente tem uma dúvida que não quer calar...
- Pois diga.

Todas as cabeças se voltaram para o garoto em expectativa. Algumas já riam até.
- Tipo, se a gente corta o ovo de um cara... (sic)
- Siiiim...
- ...sai sangue ou esperm...?

A professora furiosa com a perguntinha que julgou muito desrespeitosa e capciosa grita apontando o dedo para a porta:
- SAI É VOCÊ DA SALA! AGOOOOOORA!

E o menino sai com o riso no rosto, com gargalhadas da turma ao fundo e, ainda por cima, com a dúvida que não queria calar na cabeça.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

SOCIOLOGIA APLICADA (UM BOM COMEÇO)

Dois doutores em sociologia da Federal conversam sobre menores infratores descendo a escadaria do CCSA à noite.
- Basta de violência diária, simbólica e física a que estão submetidos esses menores!... - diz o mais mais empolado deles, em flagrante clichê acadêmico.
- Sem dúvida. - balança a cabeça em concordância o outro.
- Aí depois não querem que virem deliqüentes, que assaltem, ora, faça-me o favor!...
- Pois é...
- A solução pra essa porcaria toda é Marcuse, Weber, Marx!..
- De acordo.
- Tem que meter é conhecimento na cabeça dessa molecada!

E do nada aparece um trombadinha que tenta ligeiro roubar a carteira. O doutor, arretado, urra:
- MOLEQUE SAFADO!

E, com uma brutalidade maior do mundo, acerta a cabeça do menor com um pesadíssimo volume de Max Weber. Com tanto conhecimento, o menino cai desacordado. Em socorro ao colega, o outro professor saca um dos tomos de O capital debaixo do sovaco e lasca o trombadinha de porrada ali mesmo no chão.

Não resolveu, claro, o problema dos menores infratores, mas soube que nunca mais o pivete assaltou em canto nenhum.

sábado, 31 de julho de 2010

QUEM (NÃO) TEM TRAUMA DE ASSALTOS?

Ser assaltado em Recife é a coisa mais limpeza que tem. É pá-pum. Se você nunca foi, saiba que não é questão de sorte, mas de tempo. Eu mesmo comecei bem cedinho. Pelo que me lembro, foram bem umas quatro vezes. Talvez daí vieram os traumas na memória.

10 anos. Debaixo de meu prédio em CDU.
- Ei, boy, mim dá MEU relógio - ironiza o trombadinha e me rouba na maior tranqüilidade.
Meus coleguinhas tavam do lado e viram tudo.
- Roubaram teu relógio, foi?
- Não, era dele. Veio só pegar de volta.

14 anos. Parada de ônibus em frente ao Americano Batista. O cara arranca num susto meu databank da Casio e me mostra um 38 na bermuda.
- Se reagir já sabe, vu?
- Posso levantar a mão pra pedir parada?
- Vai t'imbora.

25 anos. Voltando do cinema com a namorada.
- Bora, passa o que tiver de valor aí, otaru.
- Pô, cara, de valor mesmo, só minha namorada.
- É, tá valendo - disse e levou ela embora; ela nem fez força.
Casaram. Mas, logo depois, ele quis o divórcio. Ela não valia nada.

28 anos. Boletim de ocorrência.
- Seu delegado, minha recém-ex-mulher pegou meu credicard sem avisar e estourou a conta. Isso é roubo?
- Não, é burrice. Cartão de crédito não pode ficar ao alcance da mão de mulher nenhuma. O meu não fica perto nem de mamãe...

Ah, ia esquecendo o que "lembrei" quando fiz regressão de memória.
- Agora, volte lá para os seus dois anos de idade... - falou manso o terapeuta.
- Painho... tirou a chupeta da minha boca...
- E aí?
- Não devolveu mais.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

LISTA DE COISAS A LEMBRAR

01. Pagar a conta da Oi (e é até hoje, senão entra no Serasa e SPC pela quinta vez).
02. Dar comida pras cachorras.
03. Tomar água.
04. Tomar banho.
05. Notar que a namorada aparou 2cm do cabelo.
06. Mirar o mijo no centro do vaso sanitário (e não na borda).
07. Não forçar o miado da gatinha dando súbitos apertões.
08. Não esquecer o item 3.
09. Lembrar do item 4.
10. Relembrar bem do item 4.
11. O nome de meu pai é Ademar (o exame de paternidade tá na segunda gaveta da cômoda).
12. O de minha mãe é Soraia e não a velha chata da casa 08 (que, por sinal, é onde você mora).
13. Gleisson é o meu irmão e não o colega de quarto.
14. Cynthia é minha irmã e não ex-ficante.
15. Sua namorada é Yvonne mesmo (confirmar com a pessoa do item 12, ela é de confiança).
16. Você é Jefferson (consultar RG na carteira que está no bolso da calça pendurada na porta do quarto há três semanas - e um dia - contando com hoje).
17. Dizer, vez por outra, e não de ano em ano, que ama a pessoa do item 15 (confirmada pela do item 12) pois ela gosta.
18. Você é professor e volta ao trabalho no dia 2 de agosto de 2010 (este ano). A primeira aula é na quinta série.
19. Chegue pontualmente atrasado na sala e grite: "Diego, fora!" (ele vai fazer alguma coisa errada e é bom lembrar logo).
20. O Brasil não ganhou esta Copa (mas ainda é penta, e não tri).
21. Seu nome é Jefferson mesmo (releia o item 16 sempre que houver dúvida).

sexta-feira, 9 de julho de 2010

RAPIDINHA NA FACULDADE

UFPE, 2003. Aula de Teoria da Literatura 1A com Sônia Ramalho. Chamada da professora (eu juro, ela fazia chamadinha ainda).
- Jefferson?
- Chegou ainda não, professora.
- Mas já vai dar 8h30!
- Ele sempre chega meia hora atrasado.
- O grupo dele vai se apresentar agora! Como é que pode isso?
- Já já ele tá aqui, professora. A aula não começa às 8h00?
- Começa.
- São oito e vinte e sete?
- São.
- E então!...

3 minutos depois.
- Olha ele aí. Pontualmente atrasado.
- Jefferson, já estou por aqui com seus atrasos e esquecimentos! É o seminário da sua equipe agora, meu filho!
- Professora, eu juro que dessa vez eu lembrei que tinha aula. Mas sempre acontece alguma coisa, eu não sei o que é!
- Pois tá bom de saber, que desse jeito você se quebra.

Pausa pra pensar numa desculpa esfarrapadamente plausível.
- Sem querer arriar, mas ainda acho que o problema não é bem comigo, não.

A professora solta uma gargalhada (aliás, ela grasna) que lembra a Cuca do Sítio do Pica-pau Amarelo.
- Você só pode tá "arriando", sim.
- Só um pouquinho...
- Como é?
- Nada, não. Vê só, eu tenho uma hipótese. Eu chego pontualmente atrasado, né?
- É.
- Agora, vocês... ou chegam um pouco antes... ou um pouco depois...
- Sim e daí?
- Daí que quem é regular aqui sou eu.
- Como é que é?
- Esse horário de vocês tá meio desregulado. A Federal devia mudar pra o meu de 8h30, que deve ser a hora de Brasília.

O fundão riu primeiro. A professora grasnou de novo que nem a Cuca e não colocou falta.

DE QUEM LEMBRO