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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

NA TERRA DE CAYMMI

Sempre me pintaram a Bahia como a terra do lenga-lenga, da galera que não deixa pra fazer amanhã o que pode ser feito depois de amanhã (e olhe lá). O baiano pra mim sempre foi um cabra deitado na rede comendo acarajé e fazendo o que ele sabe melhor: nada. Dizem que os bebês lá são obrigados a nascer de cesariana porque, se depender, eles passam a vida dormindo no útero. Quando viajei pra lá, vi que não precisa fumar maconha pra entender os efeitos. Basta ver um baiano "em ação".

O cabra está estacionando o carro e chega um flanelinha.
- Veeeenha... e aí, meu rei, vai querer uma lavagenzinha, não?
- Tranqüilo. Quanto é?
- Dez contos.
- Tá beleza. E polimento, tu faz?
- Pô, sacana... polimento dá um trabaaaaalho...
- E tu não quer ganhar mais dinheiro, não, boy?
- Queeeero, só que ganhar mais dinheiro dá um trabaaaaalho...

Depois saímos de táxi eu e minha namorada pra passear no Farol da Barra. O carro parou, mal tinha encostado a sandália no chão, vem uma voz mansa quase na nuca do cara:
- Vai querer uns colar, não, menino?
- Nada, tá limpeza.
- Esse espanta mau olhado...
- Tô afim não.
Aí depois de muito insistir, vendo que eu tava resistente, resolveu fazer uma "doação baiana":
- Olhe, pode levaaar, vááá, o que impooorta não é o dinheeeiro, nãããão, o que importa é a humildaaadee... - e foi logo botando o colar em volta do meu pescoço turístico.
- Pô, brigado, velho.
- É vinte contos.
- Oxe, e a humildade?
- Ainda saiu baratinha, meu rei...

Na Bahia, fique ligado na gastronomia também. Nunca mais peço uma lambreta, lá na orla de Salvador, nem mobilete, nem motoca e similares... Custa os olhos da cara e não vale a pena. É um caldo da Compesa com uns testículos de camelo de onde sai um fiapo marrom escroto que parece até que tá dando língua pra gente. O prato é feio que dói e é seboso que é a peste. Mas pelo menos o atendimento compensa.
- Ei, me disseram que o bom aqui é pedir uma lambreta. Que prato é esse, hein?
E o garçom apontou pra uma mesa logo atrás de mim onde tinha um casal jantando:
- Levanta e vê aí.
Desse jeito. O baiano tem mais o que fazer em vez de ficar abrindo a boca pra descrever comida, né? Abrir a boca só se for pra bocejar.

Noutro restaurante, minha coca não estava gelada quanto gostaria. Chamei o garçom:
- Traz gelo, por favor, amigo?
O cara encostou a mão no copo e disse:
- Tá gelada.
Mas né fogo. Eu pedi pra ver se tava gelada? É porque eu não tava com minha peixeira, senão lhe enfiava uma bem meio na goela.

Próxima vez que for na terra de Caymmi, vou com uma seringa cheia de coca-cola pra injetar em tudo quanto é baiano e não dar moleza a quem já tem até demais.

DE QUEM LEMBRO